sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O MAR-CADOR


Sobre o que tentarei prendê-lo, caro paciente (no sentido de ter paciência por acompanhar as linhas que aos poucos tu acompanhas, não no sentido de ter paciência de esperar o atendimento médico, por exemplo), nas sílabas, palavras, frases, orações e períodos a seguir, é algo que todos nós vivemos, embora seja muito provável que não nos damos conta. Obviamente, possível é que apareça alguém que não tenha ideia daquilo a que me refiro, por não comungar do mesmo sentimento ou por não apropriar-se do mesmo uso desse bem tão valioso... (Se você ler esse parágrafo sozinho mais uma vez, esquecendo-se do restante do texto, pode cogitar um milhão de coisas sérias e polêmicas que viriam a seguir. Uma pena [ou que bom!] que não seja bem isso!)

O caso é o seguinte: terminados o almoço e a conversa que geralmente se estende por alguns quartos de minuto e a autoatualização das notícias e relevâncias ao redor, peguei, como de costume, um livro para me ajudar na doce tarefa de iniciar uma tarde. Há dias vinha lendo aquele mesmo livro – comecei a leitura dele em 2013, e apesar de já se irem vários dias do novo ano, ainda estava no mesmo livro (Obs.: isso não é uma daquelas piadas bobas que fazem no dia 31/12 dizendo “só vou banhar agora no próximo ano”; ou no dia 1º/01 “nossa! faz tanto tempo que não te vejo... te vi no ano passado”! Demorei de verdade nesse livro relativamente pequeno). Dessa vez, ao pegá-lo a fim de dar prosseguimento à sua leitura, nem me dava conta de que estava bem perto do fim. Enfim, retirei o marcador que tem alguma frase bonita do “Seu” William (um cara aí que foi dramaturgo e que é incalculavelmente inesgotável no que fez, num tem?) e prossegui a leitura do livro homônimo de uma canção fantástica da Donzela de Ferro (Em inglês, Iron Maiden, é claro!).

Depois de pouco menos (ou muito menos – a gente costuma se perder com a contagem do tempo enquanto lê alguma coisa excelente) de uma hora, concluí a leitura do livro. Engraçado é que, antes de me convencer que o fim da história havia, de fato, chegado, procurei, entre a folha em branco, a folha com as propagandas dos demais volumes da editora e a biografia do escritor americano  autor da obra que lia  outras páginas com o conteúdo que há dias me prendia. Mas, infelizmente, as páginas inexistiam... o que restou – passivo, inerte, triste por seu trabalho ter encerrado e com medo de ser jogado dentro de uma gaveta ou em cima de qualquer coisa, sem certeza ou sequer perspectiva de que ainda seria útil algum dia – foi o marcador.

Detido por alguns instantes nessa cena, sempre fico após a leitura de um livro. A última vez que usamos um marcador, por mais trivial que possa parecer, é algo extremamente poético. Quer ver? Veja!...

À beira do desuso
Cansado do que vi
Tudo parecera outrora escuro,
Mas era entre letras,
Proseadas, rimadas,
Prosaicas ou vernáculas,
Que me puseram com confiança,
Com fé e esperança.
À beira do desuso sempre estive,
Incerto se veria
As mesmas frágeis mãos
Que me ligavam ao coração
Confiante, incessante,
Ordenador da missão
De resguardar a memória
E trazer-lhe com firmeza
Ao ponto de parada,
Ponto de partida
E um dia, enfim, chegada.
A beira do desuso que eu vi,
Hoje contemplo com saudade:
Espero ter saúde
Para voltar à utilidade
Na poeira das gavetas e armários,
Na eternidade das páginas cerradas,
Na alegria do livro e sentimento abertos.




Ok, ok! Confesso que não foi lá uma grande poesia. Contudo, deixo aqui o meu conselho a ti que, a meu exemplo, usas (por precisão ou por prazer) um instrumento para ajudá-lo na retomada da leitura de um livro: antes mesmo de escolher bem o livro, escolhe bem seu marcador, afinal tão importante quanto o caminho que tu segues são as placas que te guiam e te fazem lembrar onde estás, por onde ir... E, no fim, quando estiveres segurando aquele pedaço de papel mais consistente que as páginas do livro sem ter que recolocá-lo numa página específica, agradece por ter tido a chance de utilizá-lo e pede a Deus (aos céus ou ao acaso – a gosto...) a chance de fazê-lo servir a ti mais e mais vezes: marcar as páginas que marcarão o coração.

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