Sobre o que tentarei prendê-lo, caro paciente (no sentido de
ter paciência por acompanhar as linhas que aos poucos tu acompanhas, não no
sentido de ter paciência de esperar o atendimento médico, por exemplo), nas
sílabas, palavras, frases, orações e períodos a seguir, é algo que todos nós
vivemos, embora seja muito provável que não nos damos conta. Obviamente,
possível é que apareça alguém que não tenha ideia daquilo a que me refiro, por
não comungar do mesmo sentimento ou por não apropriar-se do mesmo uso desse bem
tão valioso... (Se você ler esse parágrafo sozinho mais uma vez, esquecendo-se
do restante do texto, pode cogitar um milhão de coisas sérias e polêmicas que
viriam a seguir. Uma pena [ou que bom!] que não seja bem isso!)
O caso é o seguinte: terminados o almoço e a conversa que
geralmente se estende por alguns quartos de minuto e a autoatualização das
notícias e relevâncias ao redor, peguei, como de costume, um livro para me
ajudar na doce tarefa de iniciar uma tarde. Há dias vinha lendo aquele mesmo
livro – comecei a leitura dele em 2013, e apesar de já se irem vários dias do novo
ano, ainda estava no mesmo livro (Obs.: isso não é uma daquelas piadas bobas
que fazem no dia 31/12 dizendo “só vou banhar agora no próximo ano”; ou no dia
1º/01 “nossa! faz tanto tempo que não te vejo... te vi no ano passado”! Demorei
de verdade nesse livro relativamente pequeno). Dessa vez, ao pegá-lo a fim de
dar prosseguimento à sua leitura, nem me dava conta de que estava bem perto do
fim. Enfim, retirei o marcador que tem alguma frase bonita do “Seu” William (um
cara aí que foi dramaturgo e que é incalculavelmente inesgotável no que fez,
num tem?) e prossegui a leitura do livro homônimo de uma canção fantástica da
Donzela de Ferro (Em inglês, Iron Maiden, é claro!).
Depois de pouco menos (ou muito menos – a gente costuma se
perder com a contagem do tempo enquanto lê alguma coisa excelente) de uma hora,
concluí a leitura do livro. Engraçado é que, antes de me convencer que o fim da
história havia, de fato, chegado, procurei, entre a folha em branco, a folha com as
propagandas dos demais volumes da editora e a biografia do escritor americano – autor da obra que lia – outras páginas com o conteúdo que há dias me prendia.
Mas, infelizmente, as páginas inexistiam... o que restou – passivo, inerte,
triste por seu trabalho ter encerrado e com medo de ser jogado dentro de uma
gaveta ou em cima de qualquer coisa, sem certeza ou sequer perspectiva de que ainda
seria útil algum dia – foi o marcador.
Detido por alguns instantes nessa cena, sempre fico após a
leitura de um livro. A última vez que usamos um marcador, por mais trivial que
possa parecer, é algo extremamente poético. Quer ver? Veja!...
À beira do desuso
Cansado do que vi
Tudo parecera outrora
escuro,
Mas era entre letras,
Proseadas, rimadas,
Prosaicas ou
vernáculas,
Que me puseram com
confiança,
Com fé e esperança.
À beira do desuso
sempre estive,
Incerto se veria
As mesmas frágeis
mãos
Que me ligavam ao
coração
Confiante,
incessante,
Ordenador da missão
De resguardar a
memória
E trazer-lhe com
firmeza
Ao ponto de parada,
Ponto de partida
E um dia, enfim,
chegada.
A beira do desuso que
eu vi,
Hoje contemplo com
saudade:
Espero ter saúde
Para voltar à
utilidade
Na poeira das gavetas
e armários,
Na eternidade das
páginas cerradas,
Na alegria do livro e
sentimento abertos.
Ok, ok! Confesso que não foi lá uma grande poesia. Contudo, deixo aqui o meu conselho a ti que, a meu exemplo, usas (por precisão ou por
prazer) um instrumento para ajudá-lo na retomada da leitura de um livro: antes
mesmo de escolher bem o livro, escolhe bem seu marcador, afinal tão importante
quanto o caminho que tu segues são as placas que te guiam e te fazem lembrar
onde estás, por onde ir... E, no fim, quando estiveres segurando aquele pedaço
de papel mais consistente que as páginas do livro sem ter que recolocá-lo numa
página específica, agradece por ter tido a chance de utilizá-lo e pede a Deus
(aos céus ou ao acaso – a gosto...) a chance de fazê-lo servir a ti mais e mais
vezes: marcar as páginas que marcarão o coração.

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